4. O luto enquanto processo
- Karen Regina Amorim Carmo
- 11 de jun. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 5 de fev.
Multifacetado
Uma série de despedidas
Aquele que ensina a lidar com a inevitabilidade da perda.
Ao longo da minha vida, aprendi que o luto não se restringe apenas à morte física de alguém, mas se manifesta em diversas formas e momentos, cada um trazendo seu próprio peso e significado.
Quando criança, fui confrontada com o primeiro luto: a perda da infância.
A inocência, os sonhos foram substituídos por uma realidade dura e, muitas vezes, violenta, representando a perda precoce de uma parte essencial de mim. Esse primeiro luto me silenciou por um tempo, até que eu entendesse que a inocência podia ser roubada, deixando marcas que, por vezes, parecem impossíveis de curar.
Com a perda de pessoas amadas, aquelas que, por algum tempo, foram a nossa âncora, o nosso porto seguro, a morte deixa um vazio imensurável, uma ausência que se faz sentir em cada gesto do cotidiano. Lidar com essa perda significa aprender a conviver com a saudade e a transição entre o estar presente e o sentir a ausência de alguém que foi fundamental em nossa trajetória. Essa forma de luto é, sem dúvida, uma das mais difíceis, pois nos força a encarar a fragilidade da existência e a questionar o sentido da vida sem a presença física de quem amamos.
No contexto dos cuidados paliativos, o luto aparece de outras formas, já que coloca luz na iminência da morte. O convívio com a finitude nos ensina que o luto é parte inevitável do ciclo da vida, e que a aceitação da morte pode, paradoxalmente, abrir espaço para uma vida mais plena e consciente, ainda que dolorida.
A tristeza,
A raiva,
A revolta,
A sensação de vazio,
A sensação de alívio
São todas partes legítimas desse processo.
E sobre isso, posso dizer que a certeza da morte não é abraçar a desesperança, mas sim compreender que a impermanência é o que dá valor a cada instante.
E quem aqui não tem certeza da morte?


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