O que você encontra no Capítulo 3
- Karen Regina Amorim Carmo
- 7 de fev. de 2023
- 4 min de leitura
Atualizado: 8 de fev. de 2023
Farejando os fatos: O resgate da intuição como iniciação
A BONECA NO BOLSO: VASALISA, A SABIDA
No leito de morte de sua mãe, Vasalisa recebe uma pequena boneca que a auxiliará sempre que se perder ou precisar de ajuda, desde que não fale dela para ninguém. Tempos após o luto, seu pai desposa uma viúva com duas filhas que passam a atormenta-la. Em uma tentativa de se livrar da menina, a madrasta solicita que pegue fogo na floresta com Baba Yaga. Guiada pela boneca, a menina chega à estranha casa da velha bruxa. Por simpatizar com a menina, Baba Yaga decide entregar o fogo à ela desde que cumpra certas tarefas. A boneca novamente a auxilia e, ao final, a menina faz algumas perguntas à Baba Yaga, se contentando com as respostas dadas até que a boneca interfere para que pare de questionar a bruxa. Voltando para casa com a chama dentro de um crânio, Vasalisa observa a caveira queimar a madrasta e as duas filhas.
A PRIMEIRA TAREFA: PERMITIR A MORTE DA MÃE-BOA-DEMAIS
O maior legado deixado pela mãe de Vasalisa é a constatação de que devemos deixar a mãe-boa-demais morrer para que uma nova mulher tenha chance de nascer. É a sua morte que leva a menina ao processo de iniciação. Por mais que seja necessária nos primeiros anos de vida, "a mãe positiva" não deve ter sua presença prolongada sob risco de prejudicar o desenvolvimento futuro. Devemos, portanto, afrouxar nossa dependência deste arquétipo e ir atrás de uma "mãe selvagem" para nos ensinar.
A SEGUNDA TAREFA: DENUNCIAR A NATUREZA SOMBRIA
A madrasta e suas filhas representam no conto os elementos pouco desenvolvidos, mas provocativamente perversos da psique. Apesar de negativos, podem ser úteis conforme identificamos seus aspectos e fontes, tornando-nos mais fortes e sábias. A madrasta é aquela que suga a força psíquica, fazendo com que o fogo se extinga. É na falta do fogo que se faz necessária a ida à Baba Yaga. Enquanto ficar parada, a menina estará entorpecida.
A TERCEIRA TAREFA: NAVEGAR NAS TREVAS
A boneca de Vasalisa é o legado de sua falecida mãe. Nesta fase, a menina precisa consentir em entrar na floresta obscura da psique, se tornar sensível às orientações da boneca, confiando exclusivamente nos próprios sentidos interiores e aprender a nutrir a própria intuição (a boneca).
"Não há bênção maior que uma mãe possa dar à filha do que uma confiança na veracidade da sua própria intuição." p. 68
A QUARTA TAREFA: ENCARAR A MEGERA SELVAGEM
Ao encontrar a Megera Selvagem, a menina precisa realizar novas tarefas: suportar o encontro sem hesitar, se familiarizar com a estranheza do selvagem, adotar novos valores e encarar o grande poder existente nos outros e em si mesma, permitindo que a criança frágil se definhe cada vez mais. Baba Yaga pertence ao mundo animal e Vasalisa, por sua vez, precisa desse elemento na sua personalidade.
"A doação da boneca intuitiva pela doce mãe verdadeira não está completa sem as tarefas e as provas apresentadas pela Velha Selvagem. Baba Yaga é a medula da Mulher Selvagem." p. 70
A QUINTA TAREFA: SERVIR O NÃO-RACIONAL
Baba Yaga ensina tanto a morte quanto a renovação. No conto, ensina Vasalisa a cuidar da casa psíquica do feminino selvagem, mantendo-a limpa e organizada para que possa se dedicar às suas ideias e projetos. Os ciclos das mulheres de acordo com as tarefas de Vasalisa são os seguintes: limpar nosso pensamento, renovando nossos valores com regularidade; eliminar da nossa psique as insignificâncias, varrê-las, purificar nossos estados de pensamento e sentimento com regularidade. Acender a fogueira criativa e cozinhar ideias num ritmo sistemático e especialmente cozinhar muito para alimentar o relacionamento entre nós mesmos e a natureza selvagem.
A SEXTA TAREFA: SEPARAR ISSO DAQUILO
Ao exigir tarefas dificílimas à Vasalisa, Baba Yaga a ensina a ter discernimento, separando uma coisa da outra, fazendo distinções sutis; a observar o poder do inconsciente mesmo quando o ego não está familiarizado com ele, além de ensinar mais sobre a vida e a morte. Estés nos alerta de que, às vezes, o processo de separação ocorre num nível tão profundo que ele mal chega ao nosso consciente, até que nos deparemos com um dilema ou pergunta que nos force a resolver essa questão com os recursos internos que nem sabíamos existir. O processo de separação ainda nos faz perceber que nem todo medicamento serve para todas as doenças.
A SÉTIMA TAREFA: PERGUNTAR SOBRE OS MISTÉRIOS
Depois de completar com sucesso as suas tarefas, Vasalisa faz algumas boas perguntas à Yaga, buscando aprender mais sobre a natureza da vida-morte-vida e sobre a capacidade de compreender todos os elementos da natureza selvagem.
"A Yaga nos ensina que somos a vida-morte-vida, que esse é o nosso ciclo, que esse é o nosso insight muito particular do feminino profundo." p. 76
Para Yaga, porém, há uma quantidade determinada de coisas que todos deveríamos saber em cada idade e estágio de nossas vidas. Não devemos adiantar nada, pois quando necessária, a compreensão virá.
A OITAVA TAREFA: DE PÉ NAS QUATRO PATAS
Baba Yaga sente repulsa pela bênção da mãe falecida e dá a Vasalisa a luz — uma caveira incandescente numa vara — dizendo-lhe que se vá.Para Yaga, a bênção provém da mãe-boa-demais e, portanto, diz respeito ao lado submisso e recatado da natureza feminina. Ao ir embora, Vasalisa deve assumir o grande poder de ver e afetar os outros, percebendo as situações com essa nova luz que sua experiência trouxe. Com a caveira incandescente, Vasalisa passa a ser capaz de perceber o que está por trás ou por baixo das motivações, ideias, atos e palavras dos outros.
A NONA TAREFA: REFORMULAR A SOMBRA
Uma vez de volta à casa, a caveira incandescente observa a madrasta e suas filhas, queimando-as até reduzi-las a cinzas. Neste estágio, Vasalisa precisa usar a própria visão aguçada para reconhecer a sombra negativa da própria psique, reagindo à ela e a reformulando. Por mais que sinta medo, sua voz interior pede que fique calma e siga em frente. Para Estés, após resgatar sua intuição, cada mulher chegará a um ponto em que se sentirá tentada a se desfazer de seus conhecimentos, pois ao ter a capacidade de ver e pressentir, sentirá que precisa agir a respeito do que se viu.
by Macabéa - Clube de Leitura





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